Prado Coelho segunda-feira, 27 de agosto de 2007 | 0
Não era leitor assíduo do Fio do Horizonte, mas gostava de saber da sua existência, ora por razões culturais ou por motivos políticos, tópicos bem caros a Prado Coelho.
Curiosamente, a crónica que mais me chamou a atenção em vários anos não envolveu nem cultura nem política:
A dor dos animais
Em primeiro lugar, os factos: a dor dos animais. Todos nós nos habituámos a este nome: a União Zoófila. Ora a União Zoófila corre sérios riscos de fechar. Os seus associados pagavam uma quotização. Neste momento - é a crise? - estão a deixar de pagar. E o resultado é que a instituição está a deixar de funcionar. Por exemplo, a cozinheira deverá ter que deixar as suas funções. E pouco a pouco as diversas actividades, fundamentais para a subsistência, dos animais estão a chegar ao fim. Daqui resulta que cerca de 800 cães e inúmeros gatos não têm de que viver. Têm fome, sofrem. Pede-se às pessoas que levem comida, sobretudo alimentos secos. Que comprem latas nos supermercados - mesmos os mais baratos. Ou que dêem algum dinheiro. O dinheiro que puderem. Torna-se necessário fazer um esforço para salvar a União Zoófila. E os animais que ela protege. E sem ela tornar-se-ão seres vagabundos, cachorros vira-latas, animais nómadas e desamparados que procuram não morrer.
Há uma dor específica dos animais. Começa por um olhar que é puro silêncio dentro de nós. Uma forma de nos verem que é sempre um apelo. O animal não sabe o que é o tempo. A gente parte e eles não sabem se é para daqui a cinco minutos, se é para sempre. Esta forma de não saber faz deles seres particularmente desamparados. Quando sofrem, a dor é de uma opacidade emparedada. Tantas vezes abandonados pelo egoísmo estival das pessoas: os donos vão para praia, sabem que os nossos hotéis e restaurantes não os acolhem, deixam-nos sem nome nem morada. Sentir a dor dos animais é entrar noutra forma de sentir a dor.
Estranhamente, falamos hoje muito na dimensão ecológica mas aparentemente não nos damos conta de que ela passa por aquilo que um animal sente.
17 de Outubro de 2005
Eduardo Prado Coelho
Curiosamente, a crónica que mais me chamou a atenção em vários anos não envolveu nem cultura nem política:
A dor dos animais
Em primeiro lugar, os factos: a dor dos animais. Todos nós nos habituámos a este nome: a União Zoófila. Ora a União Zoófila corre sérios riscos de fechar. Os seus associados pagavam uma quotização. Neste momento - é a crise? - estão a deixar de pagar. E o resultado é que a instituição está a deixar de funcionar. Por exemplo, a cozinheira deverá ter que deixar as suas funções. E pouco a pouco as diversas actividades, fundamentais para a subsistência, dos animais estão a chegar ao fim. Daqui resulta que cerca de 800 cães e inúmeros gatos não têm de que viver. Têm fome, sofrem. Pede-se às pessoas que levem comida, sobretudo alimentos secos. Que comprem latas nos supermercados - mesmos os mais baratos. Ou que dêem algum dinheiro. O dinheiro que puderem. Torna-se necessário fazer um esforço para salvar a União Zoófila. E os animais que ela protege. E sem ela tornar-se-ão seres vagabundos, cachorros vira-latas, animais nómadas e desamparados que procuram não morrer.
Há uma dor específica dos animais. Começa por um olhar que é puro silêncio dentro de nós. Uma forma de nos verem que é sempre um apelo. O animal não sabe o que é o tempo. A gente parte e eles não sabem se é para daqui a cinco minutos, se é para sempre. Esta forma de não saber faz deles seres particularmente desamparados. Quando sofrem, a dor é de uma opacidade emparedada. Tantas vezes abandonados pelo egoísmo estival das pessoas: os donos vão para praia, sabem que os nossos hotéis e restaurantes não os acolhem, deixam-nos sem nome nem morada. Sentir a dor dos animais é entrar noutra forma de sentir a dor.
Estranhamente, falamos hoje muito na dimensão ecológica mas aparentemente não nos damos conta de que ela passa por aquilo que um animal sente.
17 de Outubro de 2005
Eduardo Prado Coelho